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Nossa vida é tecida de muitas coisas boas e não tão boas. Mas, o fato é que esse emaranhado de coisas - que eu costumo chamar de "biroscas" -, fazem parte da nossa vida. São partes que formam o todo que é nossa vida. Trabalhamos, brincamos, corremos, amamos, brigamos, choramos, etc. São experiencias assim que temos a intenção de compartilhar com os nossos seguidores. Dessa forma, quem sabe não nos ajudamos, não é mesmo?


O contexto histórico caracterizado por uma série de mudanças e alterações nas modalidades da reflexão, muitas vezes cheias de ambiguidades, que veio instaurando-se, e que de certa forma colocam em discussão a razão de ser e o próprio significado da família, com a sua fisionomia insubstituível e própria, fundada no projeto de Deus Criador, fez com que hoje, seja imprescindível, insistir no artigo (no singular) A família.
É preciso ressaltar o uso do singular: A FAMÍLIA, quando torna-se mais freqüente um uso do plural, AS FAMÍLIAS, pelo fato que o uso do plural, comporta uma negação do modelo da mesma, fundada no matrimônio, comunidade de amor e de vida, de um homem e uma mulher, abertos à vida. Ligado ao conceito original e no singular de A família, está a sua filosofia, o seu fundamento antropológico sobre o qual o Papa abordou muitos aspectos iluminadores do seu magistério2.
Se permanecemos sem confusões, sem concessões indevidas, o modelo da família pensado por Deus, como instituição natural nos distanciamos de uma visão superficial e precipitada, que concebe o matrimônio e a família como simples fruto da vontade humana, produto de acordos frágeis. Consensos, acordos que não oferecem a estabilidade e a identidade como uma riqueza, mas contrariamente, a precariedade, portanto a unidade matrimonial está sujeita a deterioração através de sucessivas erosões que debilitam a família.
No texto de Gênesis 2, 24, o Senhor declara solenemente o projeto de Deus, desde o princípio da criação ("ab initio": como modelo pensado pelo Criador). Existe uma ordem estabelecida por Deus desde a criação (AP ARCHES) (cf. Mt. 19,4): "Criou-os homem e mulher… Por isso o homem deixará, seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher e os dois serão uma só carne. De modo que não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu."3. O Catecismo da Igreja Católica traz o comentário de Tertuliano: "Não existe nenhuma divisão quanto ao espírito, quanto a carne; pelo contrário,…ali aonde a carne é uma, um também, é o espírito." (C.E.C., n. 1642). É necessário lembrar que, "carne", na linguagem bíblica, refere-se não só ao aspecto material do homem , mas ao homem como pessoa, como um todo. São Paulo, na carta aos Efésios, refere-se também a esta passagem da Gênesis (cf. Ef. 5, 31) e a apresenta como o "grande mistério (to mysterion… mega)" (Ef. 5, 32), no que diz respeito à Cristo e a Igreja. O "gran de mistério" (o maior dos mistérios, no processo que refere-se a Escritura), baseia-se no fato que o homem (anthropos: Adão), é o tipo (typos) do amor de Cristo e da Igreja4.
O tema que comentamos, encontra a chave no dom, que tem a sua fonte em Deus, da onde todo dom provêm (cf. Gc 1,17). É o dom recebido na Igreja ("dom da Igreja") e por ela, através da Igreja doméstica.
O consentimento é o elemento indispensável que constitui o matrimonio, é o dom que os futuros esposos se oferecem reciprocamente numa acolhida livre e explicita . (C.E.C., n. 1626). Este "ato pelo qual os esposos se dão e se recebem" (C.E.C., n. 1627) deveria ser expresso na fórmula que todo o casal deveria saber de memória e exprimir de forma pessoal e significativa.
Poderia dizer-se que a insistência da Igreja em uma adequada preparação ao matrimônio, nas diferentes etapas, busca assegurar que o "SIM" dos esposos tenha toda sua segurança e densidade (cf. C.E:C., n. 1632), já que está na base dos bens e exigências do amor conjugal. Ali se encontra a chave da felicidade, como exprime a bênção nupcial do ritual: "que encontrem suas felicidades doando-se um ao outro". A celebração liturgica deve expressar tudo que representa esta recíproca entrega entre os esposos , a Igreja e Deus, com este amor derramado em seus corações5.
O dom dos esposos, pontual e permanente, que supõe e exprime uma liberdade madura, com a forma canônica do sacerdote que recebe o consentimento em nome da Igreja, "exprime visivelmente a realidade eclesiástica do matrimônio" (cf. C.E.C., n. 1630, 1631), um compromisso público, com o "vínculo estabelecido por Deus" (C.E.C., n. 1640), vínculo irrevogável que exige fidelidade entre os esposos, e a Deus, fiel no que dispõe a Sua sabedoria. Cristo está presente no coração das liberdades humanas, com a sua potente continuidade, em um ato renovado quotidianamente, com o qual os esposos são quase ("veluti") consagrados, observa a Gaudium et Spes (n. 48).

Os esposos não podem alcançar suas felicidades e plenitudes fora desta verdade que enriquece o sentido de suas liberdades. Os esposos entregam-se reciprocamente em Cristo, que vai em suas direções oferecendo as energias necessárias para superar as limitações de uma liberdade vulnerável, necessitada, permitindo assim , aos mesmos, de expressar com sinceridade "eu… recebo você… como esposo(a) e prometo de ser-te fiel … por todos os dias de minha vida"6. Estas palavras que acompanham as mãos dos esposos que se cruzam, estão carregadas de significados e devem advertir aos mesmos sobre os riscos de uma traição do amor, que o mundo apresenta como um direito ou até mesmo libertação. Assim, a palavra torna-se inexpressiva e o gesto vazio, insignificante.


Cardeal Afonso Lopez

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